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Série “Bauhaus – Uma Nova Era”

Hello Biggers!

Semana passada eu assisti a série “Bauhaus – die neue zeit” ou “um novo tempo”, na HBO Max. Acho que só tá disponível por lá mesmo. A série foi lançada em 2019 e não encontrei nada sobre uma possível segunda temporada.

A história é a seguinte, Walter Gropius dá uma entrevista a uma jornalista e conforme eles vão conversando, a dramatização vai acontecendo. É tudo ficção, a tal jornalista nem existe mas os professores, os alunos e os acontecimentos históricos que marcaram diversas mudanças na escola aconteceram mesmo.

Foi nesse aspecto que eu fiquei um tanto incomodada. Problema nenhum ser tudo ficção baseado em eventos reais, ok?! Mas a série começa com o Walter Gropius tendo que se explicar para a jornalista por que ele tratava alunas mulheres diferentes dos alunos homens e conforme a série vai se desenrolando, o Gropius se torna um grande “incompreendido”. 

Embora a questão de gênero não seja o tema central, a determinação e ousadia de algumas personagens femininas e como suas ações eram percebidas pela sociedade são bastante presentes e se encaixam perfeitamente na personalidade disruptiva e inovadora da própria escola, então super faz sentido. Mas na minha opinião, a série ignora algumas falas de Gropius e de outros professores da escola que foram bastante misóginas. 

Para quem não sabe, a Bauhaus foi fundada logo depois da primeira guerra mundial – que a Alemanha perdeu e sofreu diversas sanções econômicas. Numa cidade conservadora que rapidinho aderiu ao nacionalismo – ideia central do nazismo. E era 1919 né gente, as mulheres tinham acabado de conquistar o direito à frequentar faculdade, a Alemanha estava começando a se democratizar, desemprego alto, inflação altíssima, fome.

Quando a escola abriu, a ideia do Gropius era que as artes estivessem ao alcance de “qualquer pessoa de boa reputação, independentemente da idade ou do sexo”. Na escola não haveria “diferença entre o sexo belo e o sexo forte” e por isso o número de mulheres inscritas foi maior do que o número de homens! Mas o mesmo Gropius ficou preocupado que a maioria feminina fosse dar um ar amador às aulas pois as mulheres supostamente estão em desvantagem intelectual em comparação aos homens e por isso não deveriam participar de certas oficinas como arquitetura, pintura, design industrial, escultura, etc.

Risos.

Quando falamos nos grandes nomes ligados à Bauhaus, quantas mulheres você consegue citar? Conhecemos muito bem as obras de Kandinsky, Paul Klee, van der Rohe, Marcel Breuer, até Johannes Itten. Mas e Gunta Stölzl que virou professora da escola e mestre da tecelagem? E Lilly Reich que também deu aulas e era parceira de van der Rohe na maioria de suas criações mas nunca mencionada nos créditos? Marianne Brandt que projetou o famoso bule de chá que é sinônimo do design da escola? Onde estão esses nomes?

Algumas alunas da oficina de tecelagem

No livro “Mulheres da Bauhaus”, Ulrike Müller escreveu que as mulheres tinham que entrar com o pé na porta e lutar para cursarem o que queriam ou eram escanteadas para tecelagem, cerâmica e costura.

As ideias difundidas pela Bauhaus influenciam nossas vidas até hoje (já viram os produtos da Apple?) e às vezes eu me assusto ao lembrar que tudo isso aconteceu 100 anos atrás pois tudo parece muito atual pra mim. Respeito e sempre defenderei o que a escola conseguiu produzir em tão pouco tempo de operação. 

Mas não podemos esquecer dessas mulheres que contribuíram na mesma proporção que os homens para as formas e funções que falamos tanto até hoje. Na minha humilde opinião, a série deixou isso muuuito de lado e praticamente absolveu Gropius nessa “contradição”.

Ainda assim, acho que vale a pena assistir a série e adoraria assistir à uma segunda temporada que, aparentemente, não deve acontecer.

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